A ilha das cavernas, dos Megálitos, dos mistérios - Parte 1

      Trilhar pela ilha da magia é muito mais que aventura. É encantamento! Difícil acreditar que tão próximo de um centro urbano possa existir natureza tão exuberante e selvagem. Desde que comecei a percorrer os caminhos encantados da ilha, não parei de acrescentar, ao meu estilo de vida, surpresas e admiração. Torna-se difícil falar sobre minhas próprias experiências, pois as palavres se tornam insuficientes para expressar tudo o que a alma sente! 

       Fica aqui o registro de mais uma destas emocionantes aventuras trilhando em Florianópolis. O cenário desta narrativa é o morro do Ingleses, que separa a praia do Santinho da praia dos Ingleses.


        Pedra redonda - um dos recantos do morro dos Ingleses

       É impossível trilhar os caminhos da ilha sem que encontremos três coisas maravilhosas: Cavernas, Megálitos e Mistérios. A natureza providenciou, aqui neste "pedacinho de terra no meio do mar", uma perfeita combinação de energia e matéria. São instigantes demais as cenas que os olhos podem vislumbrar! A princípio a mente incrédula não distingue muito bem as coisas. As rochas se confundem com o mar e algum verde oliva completa os tons; azulados quando o céu é transparente e cinzentos quando as nuvens prevalecem. O viajante preocupado apenas com a performance física e desapegado das emoções, certamente passará pelos lugares lembrando apenas as dificuldades oferecidas pelo caminho. Costões com imponentes paredões quase verticais, o imenso oceano esmeraldino ou cinzento, imitando sempre a cobertura celeste, as vezes calmo; outras furioso, como se Netuno viesse à superfície expor sua ira contra os mortais, indiferentes às titânicas forças! 

              O morro dos Ingleses é um destes lugares perfeitos para divagações da mente. Observar os imponentes guardiões pétreos que vão se demonstrando aqui e ali, é um exercício mental incrível. Impossível olhar para eles sem questionar: como foram parar em determinados lugares? A natureza quando manifesta suas forças não o faz com sutilezas. A contrário; são manifestações ruidosas e imponentes, que não permitiriam determinados estados de equilíbrio. Ao observar as cavernas podemos ter a noção do poderio destas forças. Aqui na ilha as cavidades são, basicamente, de dois tipos: As furnas de abrasão marinha, formadas pela ação da água e do vento, num trabalho lento e contínuo, impossível de ser observado pela visão humana, pois leva milhares ou milhões de anos, modificando sempre, sem jamais ser concluído. Outro tipo de caverna é formado por blocos de granito, na maioria das vezes gigantescos, que as mesmas forças titânicas empilharam, talvez durante Eons. Aí o mistério se manifesta! e enquanto a visão clareia a mente se confunde... Por mais questionamentos e intrigas causadas ao espírito, a razão sempre busca explicar os fenômenos através de forças inteligentes. São tantos alinhamentos, tantas formas esculturais, tanta precisão, que em certos momentos se torna difícil acreditar em simples coincidências!


                            Pedra do Gambá - Ponta Norte do Morro

        Minhas últimas incursões; sempre acompanhado por meu fiel escudeiro Marino Casagrande tem sido no Norte da ilha; basicamente nos morros do Rapa, Feiticeiras e Ingleses, este último tem sido o alvo das incursões mais recentes. Não são poucas as formações interessantes encontradas por lá. Alguns alinhamentos complexos, com pontos específicos localizados em outros morros, da ilha ou do continente e até mesmo com algumas estrelas. O morro dos Ingleses foi o primeiro a ser explorado por mim, logo que cheguei a Florianópolis. Foi uma opção estratégica, pois eu morava no bairro Ingleses e a elevação ficava muito perto. Já nas primeiras trilhas começaram as descobertas. Talvez as mais significativas sejam os sítios arqueológicos. Este lugar apresenta sinais da presença humana em toda parte. Desde a pré-história. Ao sul da praia dos Ingleses logo de cara é possível encontrar marcas deixadas por antigos povos. Ali existe uma interessante oficina lítica, do tempo da pedra polida. Vários indícios que o local foi muito utilizado para fabricar e polir ferramentas e ornamentos. As marcas estão por toda a parte. O morro dos Ingleses também conta um pouco da história mais recente da ilha. A mata Atlântica original foi praticamente devastada a partir do século XVIII, devido ao plantio da cana de açúcar. A oficina lítica que citei, fica no flanco Oeste do morro, onde a praia dos Ingleses forma uma linda enseada, sempre bordada por pequenas embarcações coloridas, ancoradas naquela calmaria. A partir deste ponto, podemos seguir várias trilhas, tanto no sentido sul, pelas dunas, rumo à praia do Santinho, ou pelo costão, rumo à ponta norte. Mas existem opções que cruzam o pico do morro, a Ponta do Barcelos é o ponto extremo oriental da ilha. Logo depois de atravessar o deque, sempre movimentado, paralela ao costão existe a trilha que foi batizada por "caminho do engenho". É uma espécie de abertura dos caminhos, e muitas bifurcações foram feitas expandindo em forma de leque as opções para explorar a região. Se continuarmos por essa trilha, além do local onde ficava o tal engenho, com certa dificuldade, chegaremos na ponta Norte, onde começaremos a nos deparar com as estruturas mais incríveis  que a mente pode imaginar. Ao se aventurar por ali é preciso estar sempre atento, pois a cada momento podemos encontrar coisas bonitas. No caminho podemos ver, por exemplo, as marcas deixadas por tropas de mulas que ao longo dos anos transportaram no lombo pesadas cargas. Marcaram o solo, deixando cicatrizes profundas, perpetuamente gravados na geografia do morro. Ao chegarmos na ponta norte é que realmente começam os desafios. Os íngremes e recortados costões guardam incríveis surpresas em cada palmo de terreno. Recentemente localizamos ali uma caverna, dica de um mergulhador e pescador que o Marino conheceu. Na história contada pelo homem, ali os piratas esconderam tesouros ou pelo menos ocultaram algum segredo nos vãos das pedras. Não creio nessa história porque é uma caverna muito pequena e de difícil acesso. Estreita demais e fustigada constantemente pelo mar nas duas aberturas que possui no nível d'água. Dá a impressão que a caverna se formou pela fratura de um gigantesco bloco de granito, gerando uma fenda profunda. Tentei acessá-la por uma espécie de chaminé. Chegando até uma plataforma formada por uma pedra que entalou, mais ou menos na metade da parede a uns cinco metros de profundidade, a partir do topo do bloco de granito. Utilizando rapel cheguei até ali, e foi o máximo que consegui, pois a força das ondas comprimia violentamente a água naquele vão de pedras, fazendo subir o nível de forma explosiva, como se fosse um gêiser. Talvez a caverna não possua nenhum interesse histórico ou científico, mas para aventura, foi um prato cheio.

                                 Click nos links abaixo para assistir os vídeos

                   Adentrando a Caverna dos piratas

      Dentro da caverna. Limite que foi possível

         Bem em frente à caverna dos Piratas, encontra-se a pedra do Gambá. Localizada em um plano alto e inclinado, oferece um pouco de dificuldade para chegar nela. É um lindo monumento megalítico. Neste lugar, confrontando aquela formação, começa uma viagem mental. Quando nos aprofundamos na pesquisa surge a constatação de algumas curiosidades. Há certa precisão de alinhamento, por exemplo, entre a posição do sol, no amanhecer do solstício de verão, a pedra do Gambá, a pedra do Equilíbrio, localizada no Morro das Feiticeiras e a Pedra do Amendoim em Governador Celso Ramos. São muitos questionamentos que vem à mente. Existem sítios arqueológicos com muitas inscrições rupestres, localizados na Ilha do Arvoredo, Morro dos Ingleses e em Governador Celso Ramos. Segundo o Professor Admir Ramos, que estuda os enigmas das inscrições rupestres e dos Megálitos desde os anos 80 é possível que haja alguma relação destes pontos com a Arqueoastronomia, ciência a qual ele tem se dedicado intensamente a estudar, mas que ainda não tem muita divulgação nos meios de comunicação.

Difícil acreditar que o equilíbrio dos blocos em um tão plano tão inclinado  seja apenas obra do acaso.

           Mas não terminam aí as intrigantes curiosidades do morro dos Ingleses. Localiza-se nele o extremo Leste da Ilha, local denominado "Ponta do Barcelos", ali existe um colossal Megálito, muito maior e mais imponente que a pedra do Gambá, conhecido por "Pedra da guarita" ou da "Gurita", como dizem alguns. Esta impressionante escultura ergue-se sobre os rochedos como se tivesse sido colocada ali para sinalizar alguma coisa. Olhando atentamente parece que o imenso bloco foi nivelado sobre uma plataforma. Pois está apoiado sobre três pequenos blocos de granito, difícil até de imaginar porque esses pequenos blocos não viraram poeira, esmagados pelo peso da gigantesca pedra. É um lugar de incríveis energias; onde o mar, sempre agitado, vive açoitando o costão. Em dias de tempestade a força das ondas atinge quase o topo daqueles rochedos, a mais de vinte metros de altura em relação ao nível normal. Digo isso sem exageros, porque já tive a oportunidade de constatar e aprender uma importante lição. Fui atingido por uma onda, lá em cima. Só não foi uma tragédia por conta de uma fresta entre os rochedos, que me permitiu a proteção, evitando assim que eu fosse levado pela força da enorme massa de água. Banho tomado, celular e máquina fotográfica destruídos, mas saímos sãos e salvos, eu e o GPS, apesar de encharcados. Lição aprendida na prática. Nunca subestime o perigo em trilhas de costão!

                                  Pedra da Guarita açoitada pelas ondas

   Pedra da Guarita - Ponta do Barcelos. Extremo Leste da Ilha

            Muita coisa precisa ser dita ainda, sobre o Morro dos Ingleses, mas para não ficar extensa demais esta matéria, vou contar mais em outra oportunidade. Aguarde.





Comentários

  1. Adorei a matéria Kako. Você sempre promovendo excelente informação.

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  2. Meu amado amigo, tu realmente sabe como fazer o leitor viajar nos textos que tu escreve. Não tem como o leitor não desejar vir conhecer estas belezas naturais que nossa ilha oferece depois de fazer esta leitura, parabéns .

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