A incomunicável era das comunicações

 


Vale da Utopia

            Vivemos momentos interessantes na atual sociedade. Algo surreal, que dificilmente consegue ser explicado através da filosofia. Talvez algum filósofo ultra moderno e muito jovem consiga interpretar o momento atual, entretanto, me parece, não há intenção para tal feito. Antigamente, não existiam celulares, televisões nem satélites, o máximo disponível para nos integrarmos ao mundo, quase que imediatamente, era o rádio. Cartas demoravam muito e o telégrafo não custava barato. Algumas pessoas, em busca de atualizações, devoravam jornalões imensos (aliás nunca soube porque um jornal tinha aquele tamanhão). Hoje a comunicação é instantânea! Dispõe de tantos meios que nem consigo enumerá-los... mas, confesso, não conheci, no espaço da minha existência física, um período em que as pessoas fossem tão desinformadas. É como se tivéssemos uma biblioteca pública gratuita à disposição das pessoas; contendo todos os livros já escritos no mundo. Entretanto esta gigantesca biblioteca, talvez para economizar bytes, só disponibiliza a capa dos livros, acompanhado de um micro comentário sobre a obra e o autor. Milhões de pessoas acessam essa biblioteca diariamente, a fim de se informar e formar opinião. Dizem que isso é muito bom, porque economiza tempo e tempo é dinheiro!
                                                                Vale da Utopia

            Não consigo entender neste mundo moderno a importância dada ao tempo! Levantamos cedo, e começamos nossa frenética corrida contra ele! Repetimos isso no outro dia, no outro e no outro... Depois de muitos anos, correndo desesperadamente contra o tempo, nos damos conta de que fomos vencidos por ele. Chegamos a conclusões confusas e achamos que perdemos tempo com determinadas situações. Me parece estranho demais assistir milhões de pessoas nas bibliotecas públicas das redes sociais, estudando parcialmente todos os assuntos: Política, religião, futebol, história, geografia, física, medicina, cosmologia, filosofia... será que é possível adquirir todo esse conhecimento estudando capas de livros? Mas, se fosse apenas isso, eu até entenderia; principalmente se fossem minoria os que assim procedem. Pior ainda, dessa massa gigantesca de pessoas em busca de progresso material e espiritual, sem gastar tempo, surgiu a mais abominável das profissões: O Coach! Aliás outro problema sério, é a mania que as pessoas adquiriram de dar pompa às coisas insignificantes utilizando nomes estrangeiros. Poderiam usar a palavra "treinador", mas, deve haver algo errado com essa palavra, porque os treinadores se intitulam: "Professor", os professores são chamados de "tios" ou "tias", estes(as), por sua vez, preferem ser chamados(as) pelo nome próprio, ou apelido, sem pronome de tratamento na frente do nome, a fim de não parecerem velhos! Surgem então questões semânticas e, delas, uma imensa massa social seguindo um líder que ninguém sabe o que ele ensina. Um processo de coaching, ao meu ver, parece alguém que não sabe de nada, tentando ensinar alguém que sabe menos que ele. Mas essa é a tônica do momento! Certa Vez o Ariano Suassuna, a quem sempre muito admirei, contou um de seus "causos": Conta ele que leu uma reportagem num desses jornalões, comentando sobre um show da banda Calypso, com suas incríveis letras e rimas, nas quais ele até citou uma específica; foram exaltados pela reportagem, devido a qualidade da música. Em determinado trecho o repórter classifica o "Ximbinha", guitarrista da banda, como sendo um gênio da música. Suassuna fez então a seguinte pergunta: "Se eu gasto o adjetivo "gênio" com o Ximbinha, qual adjetivo devo usar para classificar Beethoven?" Intrigante... não acham?
Vale da Utopia

                 Muitos tem por meta se formar mais rápido na universidade; substituindo o curso de engenharia pelo de tecnólogo; ou escolher um curso EAD, que pode ser rapidamente concluído. Talvez, fazer um curso presencial, de uma semana, sobre Mocha terapia ou acupuntura, e sair distribuindo saúde entre as pessoas, sem precisar ficar dez anos estudando medicina. Tudo isso por que, se criou um conceito, que é preciso ganhar dinheiro para viver bem a vida. Ou seja, a felicidade foi atrelada a um valor monetário! As pessoas estudam pelo título e pelo status social que podem adquirir. Poucos ligam para o valor social das profissões. Esquecem que é impossível para um único ser humano reter todo o conhecimento adquirido pela humanidade, ao longo de séculos de desenvolvimento. O resultado disso é uma pequena falange de profissionais bem sucedidos. Conquistaram espaço com seus méritos, aplicando os conhecimento em áreas específicas, das quais possuíam domínio inato; foram dotados de certas características pessoais. Muitos destes mega empresários da área de tecnologia, sabem tudo sobre esse assunto, mas não sabem sequer como é produzida a comida que os alimenta; desconhecem os percalços que outros tiveram, antes dele, para que ele mesmo pudesse ser vitorioso. Sem querer desmerecer ninguém, costumo questionar com meus botões: Quem teve mais conhecimento? Steve Jobs, ou Pedro castanho? Um enriqueceu, produziu feitos fantásticos na área de tecnologia; morreu jovem ainda. O outro nem sequer sabia ler, mas viveu quase cem anos desbravando e descobrindo os mistérios da natureza. Conhecimento puro, autêntico, que nem mesmo foi possível repassar, através de um livro. O primeiro pode ter deixado um imenso legado na área que dominava, produziu meia dúzia de novos ricos. O segundo produziu apenas conhecimento compartilhado com a família. Viveu miseravelmente comparado ao outro. Mas, possuiu saberes específicos, que eram apenas dele.  Ensinou sem saber que ensinava... assim o conhecimento dele, também se proliferou, através de gerações.
Vale da Utopia

           Quando o assunto é comunicação; aí tudo se transforma em caos! As pessoas se acostumaram ao tempo das redes sociais; onde tudo acontece tão rapidamente, que nem sempre conseguimos acompanhar uma postagem feita dez minutos antes. Através das redes sociais, milhões de bytes de preciosos conhecimentos chegam até nós, na maioria das vezes através de frases que não contém mais do que meia dúzia de palavras. Poderíamos pensar que, tais palavras, fossem apenas a manchete da reportagem. Não são... Essa meia dúzia de palavras, contendo enormes possibilidades de interpretação, formam a reportagem inteira. Nos grupos de WhatsApp ou em qualquer outra rede, com raríssimas exceções, o que prevalece mesmo é a desinformação. Mas, torna-se ainda pior, quando os jornais, rádios e TV's, sobretudo os da grande mídia, deixam de divulgar notícias, para produzir opiniões. A massificação é o que há de mais comuns e a verdade ficou, de tal forma comprometida, que as pessoas emitem opiniões pessoais, baseadas num pseudoconhecimento, pensando estarem falando a verdade. Que triste trajetória segue a humanidade; que tem a sua disposição tão maravilhosos meios de comunicação, e desperdiça esse potencial com dancinhas e pornografia. Vivem numa realidade paralela, mostrando nas redes sociais uma vida que nunca foi vivida de fato. 
Vale da Utopia

           Infelizmente o mito das cavernas, tão referenciado na "República", de Platão, tornou-se realidade moderna; constantemente atualizada. Boa parte da população mundial vive nessas cavernas existenciais, de costas para a luz. Acreditam que as sombras projetadas nas paredes são de fato eles mesmos. Se encantam com isso e, tornam-se incapazes de viver a realidade. Quando a verdade os confronta, morrem, como peixes que saíram da água. Ao se defrontar com a realidade, essa enorme parcela da sociedade, é incapaz de reagir. Melhor mesmo é continuar sendo sombra!


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