Recentes descobertas no Morro da Virgínia

             O Morro da Virgínia é uma excelente opção para os desbravadores. Nossas aventuras por lá sempre foram interessantes e repletas de descobertas. Pensávamos conhecer perfeitamente a região, imaginamos que pouco ou nada poderia ser acrescentado ao que já havíamos registrado por lá, no incontável número de vezes que nossos pés cruzaram aquelas trilhas. Para nossa surpresa, em três semanas seguidas de desbravamentos, próximo da comunidade Morro da Pedra do Balão, encontramos seis cavernas ainda não cadastradas e um incrível sistema contendo várias cavidades interligadas por um riacho. Não formam uma caverna contínua, pois não é possível cruzar os estreitos túneis por onde passa o riacho. Conseguimos localizar três cavidades com mais de vinte metros de extensão. Provisoriamente batizamos o sistema pelo nome de "Sapopemas", devido à uma imensa figueira Brava que cresceu sobre um bloco de granito, esparramando majestosamente suas raízes (sapopemas), para todos os lados. Como se fosse ela a guardiã daquele local encantado.

             As sapopemas se confundem com a rocha. Difícil diferenciar o mineral do vegetal

            Tem sido muito gratificante para nós explorar o morro da Virgínia. Numa destas investidas que fizemos por lá, encontramos um morador, que conhece o local como a palma da mão dele. Um sujeito muito legal, interessado na preservação ambiental e com muitas histórias pra contar. Prontificou-se para nos guiar até uma caverna conhecida por ele. Logo em seguida, me aproveitando da boa vontade do  novo amigo, seguimos rumo à tal caverna mencionada por ele. A partir daquele momento o morro da Virgínia deixou de ser o mesmo. Localizamos dez cavernas, sendo que seis delas ainda não foram cadastradas. Outro fator importante foi a integração que surgiu com pessoas daquela comunidade. Obtivemos informações preciosas em poucas conversas com moradores que encontramos pelo caminho. 
                                Uma das cavernas não cadastradas que encontramos pela trilha

        Esse desafio de explorar aquela micro região pertencente ao Morro da Virgínia, engrandece demais  os propósitos do nosso grupo, ao mesmo tempo demonstra quanta beleza desconhecida existe na Ilha de Santa Catarina. A esmagadora maioria da população nativa  desconhece esse rico patrimônio natural. Mesmo entre aqueles que se dedicam a trilhar caminhos, desbravando horizontes desconhecidos pouco sabem destes lugares. Dedicam-se a trilhar caminhos batidos, transformados em boçorocas, devido ao pisoteio incessante dos grupos de trilheiros, as vezes compostos por mais de cem pessoas.


            A natureza selvagem aqui da nossa ilha da magia é dura e delicada. O desrespeito e o desleixo pela conservação ambiental estão destruindo pouco a pouco os pequenos jardins do Éden. Muitas coisas concorrem para essa destruição massiva; na maioria das vezes causadas pela interferência humana. Durante séculos de colonização a natureza foi depredada. A mata Atlântica original pereceu quase que totalmente. Os povos nativos, conhecedores da floresta, que com ela viviam em harmonia, foram afastados. Começam as produções industriais da farinha de mandioca, do açúcar, da cachaça. Enormes atafonas tocadas pelo trabalho escravo começaram um perigoso ciclo de expansão. As plantações de mandioca e cana de açúcar, necessárias para abastecer os engenhos que se proliferavam a partir do final século XVII foram arrasadoras, roças de coivara feriram a paisagem para prover a subsistência humana, foram abandonadas poucos anos depois pela incapacidade de produzir, obrigando os agricultores a promover novos roçados, cada vez maiores. Ações contínuas que, na prática, assassinaram nossa riquíssima floresta.

        Foi uma grande perda, mas a decadência dos engenhos trouxe alento e recuperação. Porém, mal deu tempo de engrossarem as primeiras árvores e o progresso volta a ferir mortalmente a natureza. Ao final do século XIX e início do século XX o progresso da ciência volta a causar impactos severos. Caça da baleia, pesca predatória, queimadas comunidades se formando em todos os cantos, extrativismo, gente chegando de toda parte. Poucos se preocuparam com a natureza que hoje está sob forte ataque novamente. A introdução de espécies exóticas de vegetais e animais, a especulação imobiliária, aumento demasiado na densidade populacional, a consequente geração de lixo e dejetos humanos, a exploração da terra sem planejamento, causam profundo impacto ambiental; tudo isso acompanhado pela inescrupulosa ganância do ser humano, trouxe a devastação definitiva. Nos resta apenas lutar pela preservação desses pequenos recantos que ainda sobrevivem!

                Apesar de tudo, nesses tempos de morte da natureza, nós do grupo WAF Aventura, nos dedicamos diuturnamente ao trabalho de conscientizar e desbravar novos horizontes. Nosso lema é "Conhecer para preservar". As descobertas não param, cada atividade realizada engrandece mais o conhecimento já adquirido; as lições não cessam jamais. A natureza selvagem, insiste em nos presentear com suas belas paisagens e demonstrações de força e poder. É impressionante a diversidade das formas com que a vida se manifesta. Não importa o reino de domínio, seja uma bactéria ou um fungo, uma árvore frondosa ou uma singela gramínea, um poderoso e forte animal ou um inseto esvoaçante, rápido e ameaçador. Cada ser vivo contém seu próprio poder, que tantas vezes são desprestigiados ou ignorados por nós seres humanos; que do alto da nossa sapiência insistimos na realeza próprio ser, querendo impor à mãe natureza o nosso miserável e fraco poder.

        Com frequência a natureza nos mostra o verdadeiro poder; seja através das forças tectônicas que construíram gigantescas estruturas naturais, ou através de uma plantinha tentando sobreviver ao ambiente hostil; ou ainda quando somos levados a um estado convulsivo devido à simples picada de um insignificante inseto. É evidente que cada um de nós é dotado de incríveis poderes individuais, entretanto não nos é permitido pensar que nossas habilidades sejam superiores a de outros seres. Tal forma de pensar se deve, única e exclusivamente, à nossa inteligência exaltando o orgulho, esse lobo disfarçado de cordeiro, existente dentro de nós seres humanos.


        Nós do WAF Aventura estamos fazendo nosso papel de conscientizar pessoas, na tentativa de preservar o que resta da natureza selvagem. É um trabalho árduo e muitas vezes incompreendido. Para levar adiante esse projeto é preciso muita colaboração; toda e qualquer ajuda é bem vinda. Se você gosta de se divertir com emoção e consciência ecológica junte-se a nós. Seja um sócio colaborador do clube da aventura. 




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