As Cavernas da Ilha de santa Catarina

         Com mais de duzentas cavernas cadastradas, Florianópolis é o quinto município brasileiro com maior número de registros. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), mantenedora do cadastro nacional de cavernas (CNC); a maior parte deste patrimônio espeleológico encontra-se na parte insular da capital catarinense, dentro da Ilha de Santa Catarina. Atualmente, conforme dados da SBE existem 8420 cavernas registradas em todo o Brasil, sendo que 225 no estado Santa Catarina e, pelo menos, 197 na ilha de Santa Catarina. Nós do grupo WAF Trilhas e Aventuras, temos, pelo menos dez cavernas para acrescentar nessa lista. O município de Florianópolis é composto por diversas ilhas sendo que a ilha de santa Catarina é a maior. Muita gente faz confusão do nome da ilha com o nome do município.

CNC - Todas as cavernas do Estado de SC

                                 Caverna Toca da Nega - Costão do Morro do Pântano

           A Ilha de Santa Catarina faz parte de um arquipélago composto por trinta e duas ilhas. Nem todas pertencem a Florianópolis, fazem parte de outros municípios como: Palhoça, Biguaçu, Governador Celso Ramos e São José.
     Em 2016, quando eu trilhava solitariamente pelos recantos insulares de Florianópolis, frequentemente me deparava com cavernas. Por curiosidade comecei pesquisar sobre a geologia da ilha, a fim de descobrir a origem destas cavidades. Foi uma experiência tão encantadora que acabei dedicando grande parte do meu tempo ao espeleonismo (verbete que não consta nos dicionários).
        Trilhar pela Ilha da magia é muito mais que aventura... é encantamento! Fica difícil de acreditar que tão próximo de um centro urbano, exista tão exuberante e selvagem natureza. É impossível trilhar os caminhos da ilha sem que encontremos três coisas: Cavernas, Megálitos e mistérios. A natureza providenciou aqui uma perfeita combinação de energia e matéria.
          O norte da Ilha (conforme a divisão adotada por mim no livro Cavernas da Ilha de Santa Catarina), foi a primeira região explorada por mim, logo que cheguei à Florianópolis. Inicialmente concentrei esforços no Morro dos ingleses; pela proximidade que havia da minha casa; com algumas escapadas mais para o norte passando pelo Morro das feiticeiras até o Morro do Rapa, ou rumando para o sul até o Morro das Aranhas.
          Foi no Morro dos Ingleses que me deparei com as primeiras cavernas da ilha, embora não tenha adentrado em nenhuma. Minha estreia na exploração de cavernas se deu no morro das Feiticeiras, na "Caverna da Bruxa", assim conhecida até então. Mais tarde descobri que o nome correto era "Gruta das Feiticeiras"; cadastrada no CNC como SC27.

                                         SC27 - Gruta das Feiticeiras ou Caverna da Bruxa

        O Morro dos Ingleses é um lugar perfeito para divagações da mente. Guardiões pétreos que se demonstram aqui e ali, trilhas encantadoras e perigosas; um oceano, às vezes calmo, outras vezes estrondoso e feroz, produzindo gigantescas ondas que parecem medir forças com paredões imensos; executando uma sinfonia acompanhada com frequência por um vento sul não menos poderoso. A Furna do Santinho e a Gruta Encantada ocupam lugar de destaque entre as cavernas do Morro dos Ingleses; a primeira pela imponência e dificuldade de acesso, a segunda pela beleza interior e seus túneis escuros e profundos.
                                    Gruta do Rei (SC11) - Uma caverna habitada

        Embora existam muitas cavernas na região; cerca de 30 no Morro do Rapa, uma meia dúzia no Morro das feiticeiras, a Furna do Santinho (SC41) e a Encantada (SC51) são as minhas preferidas no Norte da Ilha. No Morro do Rapa destacam-se: A Poço estreito (SC211), a Gruta do Rapa (SC54) e a Gruta do Rei (SC11). O destaque da Poço Estreito se deve ao fato de ter sido descoberta por nós do grupo WAF, foi cadastrada recentemente, depois da publicação do livro. A gruta do Rei foi a única caverna encontrada, até o momento, habitada por um ser humano.
                                       SC41 - Furna do Santinho  (Morro dos Ingleses)

                   Ao citar a região norte da ilha é apenas uma forma de lembrar o inicio das minhas atividades no espeleonismo. As cavernas estão espalhadas do norte ao sul, sendo que a região do Saco grande detém a maior concentração delas, são cerca de 70 cavernas, distribuídas entre os Morros da Virgínia, Ribeirão das Pedras e Pedra de Listra. É óbvio que nem todas essas cavidades são grandiosas e nem todas podem ser acessadas com facilidade. Aí reside o maior desfio para aqueles, que como eu, são apaixonados por aventura. Muitas vezes, para adentrar uma caverna é preciso cinco ou seis investidas, tentando localizar chaminés ou passagens que permitam adentra-las. Outras vezes o empecilho maior está na trilha de acesso. Essas dificuldades obrigam o aventureiro a estabelecer prioridades. As cavernas classificadas como "Tocas", ou seja, aquelas que possuem de cinco a vinte metros de projeção linear horizontal, nós abandonamos a abordagem momentaneamente. São muitas e de pouco interesse até o momento. Outras tantas conseguimos explorar parcialmente mas, por falta de segurança, abandonamos também temporariamente a missão. Algumas são tão perigosas que ainda estamos nos preparando para enfrentá-las. Sem contar outras tantas que não conseguimos localizar, pois ficam escondidas em meio a vegetação brutal, ou entre formações rochosas exuberantes que muitas vezes funcionam como armadilhas.
                             Acessando a Caverna Andorinhas SC33 (Pântano do Sul)

                  São vários os motivos de encantamento quando nos confrontamos com essas cavidades aqui da ilha. As cavernas formadas por blocos de granito, são particularmente surpreendentes. Muitas delas possuem rios subterrâneos, encontrados a 50 ou 60 metros de profundidade. É lindo ver pequenas cachoeiras, piscinas ou minúsculas praias, naquelas profundezas escuras, iluminadas apenas por nossas lanternas instaladas em nossos capacetes.  Outras vezes vemos desaparecer, ruidosamente, num sumidouro toda aquela água límpida e cristalina, vendo rebrotar o rio, em outro ponto distante, fora da caverna, como se ali, naquele brotão d'água, fosse o local de nascimento do rio.
                                       Caverna Ocos - Um rio a 60 metros de profundidade

            Nas furnas de abrasão marinha, encontradas pelos costões do lado leste da ilha, a beleza imponente fica por conta das forças oceânicas e dos paredões gigantescos que foram perfurados pela fúria incessante do mar. Em algumas dessas cavernas é praticamente impossível entrar. Muitas delas estão em constante desmoronamento, tornando o acesso muito perigoso, pois a qualquer momento podem deslizar pedaços de de rocha que se desprendem das encostas. Alguns com tamanhos razoáveis. Tivemos experiências desse tipo em duas cavernas. Na Pedra Preta fui atingido no capacete durante o rapel. O movimento da corda soltou uma pedra que escorregou pela encosta. Felizmente atingiu em cheio o capacete. Outra experiência sinistra foi a tentativa de explorar a caverna Medo. Pelo pórtico principal era impossível entrar devido à força das ondas; localizamos então uma chaminé, parcialmente obstruída por pedras. Quando tentamos desobstruir a passagem, logo que removemos as primeiras pedras, aconteceu uma estrondosa avalanche.
                               Rios subterrâneos são comuns em cavernas de blocos de granito

        O espeleonismo é uma atividade desafiadora e perigosa, que poderia ser melhor explorada para turismo de aventura. A ilha de santa Catarina deveria ser considerada patrimônio natural da humanidade. Infelizmente o desenvolvimento urbano desordenado, a especulação imobiliária, a exploração comercial das trilhas sem critérios de segurança e preservação, a falta de conscientização e o desconhecimento deste maravilhoso patrimônio, está comprometendo severamente a preservação das cavernas. Algumas já foram parcialmente destruídas na construção de estradas, outras foram cercadas dentro de áreas particulares e sabe-se lá que destino os proprietários vão dar a elas, talvez sejam destruídas para construir casas ou edifícios. A captação d'água, sem projetos de engenharia, dentro de cavernas, desviando ou interrompendo o curso natural dos pequenos rios, está diminuindo o volume d'água ou secando completamente os córregos. Outras cavernas estão se deteriorando naturalmente, sem que o poder público se interesse em construir estruturas de proteção. Penso que essa questão deveria ser estudada com afinco, o mais rapidamente possível. Caso contrário as futuras gerações nem mesmo saberão que existiam cavernas na ilha da magia.




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