O romantismo acabou.


      Na idade que desfruto; dizem ser a melhor; observo com certa tristeza o fim de uma era que, ao meu ver, era bem mais interessante. O romantismo acabou, as pessoas não sofrem mais por amor nem pela falta dele, erradicaram da vida os sofrimentos dos relacionamentos que não deram certo. Dizem que houve uma libertação. Não deu certo... Basta apertar a tecla del! Pronto.. tudo some, não ficam vestígios ou lembranças. É tudo muito fácil... Com um click iniciamos novo amor, com outro apagamos tudo o que existiu. O romantismo acabou de fato, mas a vida não se tornou melhor por isso. Os sofrimentos humanos continuam. A diferença fundamental é que sofremos pelas coisas e não pelas pessoas. Sofremos talvez pela indiferença... E também pela falta de amor.
       No momento de pressionar aquela tecla tudo parece fácil; entretanto nunca vi, em épocas passadas, tantas pessoas com depressão, tantos perdidos nas drogas, tantos suicídios. A felicidade está sendo avaliada pelo que podemos comprar. A medida da liberdade está relacionada ao saldo das contas correntes ou do limite do cartão de crédito.
        O romantismo acabou! Inútil será chorar por alguém ou transcrever em palavras poéticas os mais belos e puros sentimentos. Como as flores que hoje presenteamos, tão belas em aparência, porém transgênicas, desprovidas do perfume e da delicadeza que antes possuíam, os sentimentos trocaram de forma. Não se chora mais por um amor não correspondido. Entretanto chora-se copiosamente pelo arranhão na pintura do carro novo, recém adquirido através de sorteio no consórcio (72 meses para pagar). As lágrimas derramadas já não são pelas pessoas e sim pelos objetos.
      Esqueceram-se os humanos modernos da própria condição humana.  Julgam-se, a maioria, super poderosos, compensando as fraquezas com muita malhação e anabolizantes. Sentimentos foram trocados pela metrologia. A estatura ideal para o homem é um metro e noventa, deve pesar uns oitenta quilos. Se a mulher não tiver pelo menos noventa de busto está fora do padrão, desconheço qual deve ser a medida do bum bum... Enfim a humanidade atual é métrica. Pouco importam os valores éticos e morais. Ninguém quer saber sobre as chorumelas do sentir.  As pessoas não participam mais da vida alheia, tornaram-se menos fofoqueiras e mais invejosas. Poucos estão contentes com a forma que vivem e, muitos há, que sequer possuem um estilo de vida. Trabalham muito não porque o trabalho os enobreça, mas porque não conseguem manter o estilo de vida que escolheram. Nesta ânsia de conquistas materiais esqueceram-se do amor. Vivem sem tempo, enquanto o tempo passa freneticamente. 
          Talvez seja eu uma espécie de dinossauro. Tentando sobreviver no mundo moderno; recusando-me a ser apenas um fóssil. A existir sem ter vida! Benditos sejam os sofrimentos causados pelo amor. Que lutas incríveis nos proporcionam as desilusões. Como nos tornamos fortes e compreensivos, mesmo que, as vezes, precisemos do auxílio de uma boa garrafa de vinho tinto. Talvez até de algo mais forte. Uma cachaça que sufoque temporariamente a angústia. É verdade que alguns se perdem neste caminho difícil e emaranhado dos sentimentos, porém mais vale morrer por amor do que padecer pela falta dele.
      Me sinto vivo quando sofro por amor!  De certa forma tenho compaixão pelos que não sofrem. Faltará a eles medidas sutis de comparação. Tenho guardado um tesouro inestimável. Ele é composto por decepções. Amores correspondidos, lindos, que por razões desconhecidas simplesmente acabaram... Como o fim de uma peça teatral ou de um filme. Há também os amores que não foram correspondidos. Alguns destes saíram da sincronia do tempo. Foram aquelas paixões que repentinamente surgiram. Sem explicação ou motivo, causaram tanta turbulência e confusão, que não permitiu a quem foi objeto da paixão compreender. Condenando, pela incompreensão, seguir caminhos turbulentos e obscuros, a fim de enganar o coração tentando convencê-lo de que aquela não seria a pessoa certa. Depois de certo tempo curtindo em barris de carvalho, parece que nos libertamos e então, aquele que não compreendia, descobre ou compreende tardiamente a reciprocidade do amor. É... Amor é também desencontro! Não falta neste tesouro as brigas com amigos ou parentes próximos, cujo amor era o elo fundamental do relacionamento.
       Tenho posse deste tesouro bendito. Minha mente lúcida acompanha a evolução do ser. Talvez eu tenha nascido em tempo errado, ou quem sabe andei muito depressa. Mas prefiro continuar sendo este homem movido pela emoção dos sentimentos, do que aceitar a vida vegetativa e insonsa daqueles que nada sentem; ou que possuem sentimentos transgênicos como as flores que hoje são presenteadas.


Comentários

  1. Li reli e ainda vou ler novamente, muito interessante . Abraço

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    1. Obrigado por participar. Críticas construtivas certamente ajudarão no aprimoramento do blog.

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