Não foi por acaso!

 
         Teria sido um dia como outro qualquer. Nada de especial. Nada que pudesse ser levado em conta ou que merecesse algum destaque.
           Teria sido como há muito tem sido minha vida. Monótona, dispersa entre caminhos obscuros. Tumultuada por sentimentos imprecisos. Sem definição.
            Mas não aquele dia! Algo novo; como a réstia de luz que longe chama atenção, ao rasgar o véu da noite trevosa. 
           Amanheceu diferente aquele dia! Perecia que tudo ao meu redor prenunciava a mudança que eu não fora capaz de perceber. Como definir um sentimento que não posso compreender? Como acreditar naquilo que não parece real? mas ao mesmo tempo, por alguma razão, se torna presença constante!
         Era para ser um dia comum. Tisnado pelas mesmas sombras, das mesmas nuvens negras e frias. Mas não aquele dia! Um novo sol brilhou naquela manhã! Um sol mais encantador e alvo como nenhum outro. Um sol que não brilhou no céu e sim na terra. Um sol que sorria e que encantava e que voltava a sorrir e encantar. Infinitamente. Circulando em torno de mim, como que me mantendo preso em uma força incontrolável e maravilhosa.
         Não foi por acaso aquele brilho. Não foi mera coincidência aquela força terrivelmente poderosa e encantadora. Tudo aquilo brotava de alguém que eu já acostumara visualizar, em frenéticos delírios, que mais pareciam fantasias da adolescência. Entretanto, enraizado no mais obscuro patamar da consciência, lá naquele remoto recôndito interior, que raramente ousamos alcançar, já estava fotografada, esculpida, lapidada, aquela imagem brilhante e encantadora.
         Sim era ela. Exatamente como eu imaginava! Como eu queria! Mas na mente aguçada para as armadilhas e encantamentos da vida, não sobra espaço para a espera. Como pode algo que tanto aguardamos causar surpresa?
         La estava ela, naquele dia que o sol brilhou diferente. Era ela e não o sol quem brilhava. Era dela aquele brilho puro, maroto, desconcertante. Gestos e fala se misturavam. Sutilezas sublimes que não são percebidas pelos olhos ou pelos ouvidos. Antes pelo coração. Não eram sons tão pouco.. não eram movimentos, nem sorrisos... Eram melodias! Sinfonias aprimoradas talvez. Um raro momento que ninguém percebeu. Somente eu.
         Não ouso aqui pronunciar seu nome, para não quebrar o encantamento. Para não sufocar aqueles sons, para não apagar aquele brilho. Quero apenas permanecer no êxtase do sonho. Amando em silêncio. Mesmo porque nenhuma palavra poderia ser dita para expressar o que, num relâmpago, meus olhos visualizaram. Afinal o que mais importa é que o momento aconteceu... e não foi por acaso!
          Talvez estivesse escrito, em invisíveis letras que repentinamente ganharam forma, como se fossem reveladas com tinta ao acaso derramada, mas que escorre de forma ordenada, traçando aqueles contornos límpidos que não permitem enganos na leitura.
             Mas que ironia o destino! Agora que a encontrei não a posso ter. Pois o limite do sonho é o tempo do sono. Triste realidade esta, pois se ela é o sol que ilumina as manhãs perfumadas de primavera, eu sou a lua que encanta as trevas da noite.
               Será que todo este desencontro foi por acaso?

Comentários

  1. Uau Kakito, que texto lindo, quanto romantismo; coisa rara nos dias de hoje. Sou uma pessoa abençoada por ter um amigo que possui um coração tão cheio de sentimentos capaz de serem expressados desta forma. Amei...Muito lindo mesmo.👏👏👏😍😍😍

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  2. Pois o limite do sonho, é o tempo do sono. Belo texto, Kakinho, meu amigo!

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