O fantasma da Costa da lagoa
Que existem
coisas estranhas todo mundo sabe. Desde o princípio da humanidade o homem teme
o desconhecido. Mas poucos acreditam naquilo que o imaginário desvenda. É
preciso ter cuidado com essas questões! Assombração existe! Há
muito tempo sou testemunha ocular destes fenômenos. Não gosto de dar mortos para confirmar fatos, por isso relato aqui um caso verídico acontecido! Tem até meu
amigo Paulo para comprovar a respeito desta terrível aparição, que outro
dia se manifestou lá pela costa da lagoa, quando por ali estávamos acampados.
A noite foi
de tempestade. Muita chuva e um assustador vento sul, sibilante, provocando rumores e gemidos por onde soprava. Naquele fim de mundo, isolados de tudo e de
todos nada mais tinha para fazer, a não ser nos recolhermos para as barracas e
dormir. Os abrigos estavam separadas cerca de uns 70 metros, de formas que,
numa noite daquelas, seria impossível ouvir qualquer coisa que um ou outro
pronunciasse ainda que gritasse.
Dentro da
barraca, sozinho naquele lugar misterioso, ouvia-se de tudo. Ver não era possível,
mas através do translúcido pano que me envolvia, dava para perceber clarões dos
relâmpagos e seus magníficos estrondos, que se misturavam com aqueles sons tão
estranhos provocados pelo vento sul. O frágil abrigo que me
protegia daquela chuva, parecia que iria levantar voo comigo dentro. Neste
cenário dormir seria impossível. Me preparei então para uma longa noite de
vigília.
De repente
aqueles sons se acalmaram e a chuva praticamente
cessou. As horas eu não olhei, mas acredito que fosse meia noite. Sem lua, os
arredores pareciam breu! Foi então que pude escutar uns barulhos, como se
fossem passos dados por um animal. Porém muito abafados, muito fraquinho...
difícil de ouvir. Abri o zíper da barraca e iluminei, com minha lanterna de
cabeça os arredores. Tive a impressão de ter visto pontos vermelhos, como se
fossem olhos de sangue, que rapidamente brilharam e sumiram. Primeiro imaginei
algum tipo de vagalume, embora fosse de tamanho exagerado. Também porque os pirilampos
que conheço emitem uma luz verde. Fechei novamente o zíper da barraca, voltando
para minha vigília. O vento e a chuva voltaram com intensidade maior. E assim
passei a noite em claro. Não nego que, de vez em quando, fazia umas orações...
a fim de espantar os maus pensamentos e também para pedir proteção para aquele vento terrível não fazer estragos. Finalmente, quando amanheceu, a chuva e o vento já haviam se
acalmado e o sol, um pouco tímido, tentava mostrar seu brilho entre aquelas
nuvens escuras. Meio tonto de sono pela noite sem dormir, saltei pra fora da
barraca e fui em direção à dispensa de alimentos que havíamos construído, logo
que chegamos no acampamento. Pelo caminho encontrei marcas como se fossem de
ferraduras. Muitas pegadas! Então comecei relacionar aquelas marcas com as
minhas experiência anteriores, zanzando por este mundo de Meu Deus! Certa
ocasião eu tinha me deparado com uma mula sem cabeça, lá pelas bandas do
Urubucaru! Aquelas formas no chão desenhadas, me lembraram daquela vivência,
pois a mula sem cabeça, é ferrada nas quatro patas com ferraduras de prata. O
que de certa forma me intrigou, foi não ter visto nenhum fogo. Pois conforme eu testemunhei juntamente com o
finado Dorico, (que se estivesse vivo poderia confirmar toda a verdade), quando
nos defrontamos com aquela aparição; do pescoço da mula saía um fogo vermelho,
muito forte, como se fosse o fogo do inferno. Não poderia portanto ser a mesma
assombração. Tinha algo diferente! Chegando na dita dispensa de alimentos qual
a minha surpresa! Não havia restado quase nada do nosso estoque de comida.
Praticamente tudo havia sido consumido. Embalagens abertas, espalhadas por toda
a parte. Quem passou por ali deveria estar com muita fome. Assombração ou não,
garanto que teve uma refeição bastante rica e variada, pois entre o que foi
consumido tinha de tudo. Uva passa, cenoura, arroz, ovo cozido, café solúvel,
açúcar, leite em pó, granola... nem lembro mais de tanta coisa que tinha. Foi
um baque que reduziu drasticamente nosso estoque, nos obrigando a retornar mais
cedo para casa. Porém a curiosidade me deixava inquieto! Resolvemos então que
ficaríamos mais uma noite, de plantão, a fim de desvendar o tal mistério.
Passamos o dia intrigados, Paulo e Eu. Ansiosos pela noite para que pudéssemos desvendar
o mistério do quadrupede fantasma.
Quando
escureceu ficamos de sentinela, na varanda da casa do chinês, uma casa que foi
construída lá por um tal chinês. Por comodidade usamos aquelas instalações que muito facilitava nossas vidas no acampamento. Munido de lanternas, câmara fotográfica e uma
boa faca carneadeira, caso a situação exigisse! Esperamos por horas no breu da
noite. De repente aquele ruído abafado que eu escutara na noite anterior.
Liguei minha lanterna e aqueles olhos de fogo brilharam bem na minha frente.
Tive um arrepio, quando aqueles olhos começaram a se aproximar, vindo em minha
direção... rápido! Me preparei para tirar a faca da bainha quando aqueles dois
pontos de fogo pararam a poucos centímetros, cara a cara comigo. Então naquela
escuridão pude perceber uma enorme boca e uma língua áspera repentinamente
lambendo minha mão. É preciso muita calma nesta hora, não nasci de susto, por
isso não sou assustado! Também não costumo correr sem antes saber de qual o
bicho estou correndo! Respirei fundo e levei a mão em direção aquela enorme
cabeça com orelhas pontudas. Só então me dei conta, que era um fantasma
quadrupede. Um cavalo manso que por ali vagava solitário em busca de alimento e
companhia. Afinal nem sempre estas aparições são de seres malignos. Já vi muita
estranheza nesta minha vida, tanta coisa pavorosa de arrepiar os cabelos, mas
lhes digo meus amigos, jamais havia visto um fantasma tão amigo e carente como
este que apareceu. O coitado só queria um pouco de companhia, um afago e alguma
comida que lhe saciasse a fome. Talvez naquele lugar tenha habitado algum dia o
cavaleiro que foi proprietário do dócil animal. Investigamos com os moradores
da região, mas ninguém nos deu explicações adequadas. Entretanto assombrações
aparecem para nos dar lições de vida. Só as percebem tão claramente aqueles que
estão aptos e dispostos para o aprendizado. Eu por exemplo, tive esta grande
vivência, que muito enriqueceu minha experiência de vida, mas se eu for contar
a maioria das pessoas julgará que é mentira. Então fico quieto, narro este fato
para que não se perca na história. Para provar
que tudo que falei é verdade deixo aqui algumas fotos deste bonachão
fantasma!
Só quem vive
no mundo da aventura é capaz de se deparar com estas visões!
Era o cavalo ladino! Kkkk
ResponderExcluirNossa, me deu medo no começo! Excelente história!!!!!
ResponderExcluirA imaginação nessa hora nunca nos remete a coisas boas, ela é muito fértil...mas que bom que tiveram coragem p enfrentar e desvendar tal fantasma dubem! Ufaaaa....rs rsrs
ResponderExcluir