Ingleses: Uma praia pedindo socorro.
Faz cinco
anos que cheguei a Florianópolis. Me estabeleci no norte da ilha, no balneário
de Ingleses. Desde então tenho me dedicado a explorar as belezas naturais na
região. Desbravei matas, morros e dunas a procura de recantos naturais ainda
preservados. Logo que cheguei, meus primeiros passos trilhando a beira mar me
dirigiram, com frequência, para o extremo sul da praia, ali, no morro dos
Ingleses, muito curti (e ainda curto) as belezas dos costões, matas e relevo. Sempre
gostei de caminhar na beira da praia e, não raro, perfazia o percurso total de
norte a sul, do morro dos ingleses até o morro da feiticeira, lá na ponta das
gaivotas, extremo norte do balneário. Hoje me deparo com a impossibilidade de
efetuar este percurso, pois as construções irregulares foram tomando conta da
praia. A natureza tem reagido, neste poucos anos fui testemunha de muitas
ressacas. Cada uma causando sua parcela de destruição. Mas o ser humano é bicho
teimoso, cada vez que um muro é derrubado pela força do mar, outro é reconstruído.
Admirável persistência! O problema é que a cada reconstrução os muros avançam alguns
centímetros e até metros em direção ao mar. Na tentativa de conter a terrível
força das ondas constroem-se muros cada vez mais reforçados, colocando-se na frente
deles grandes blocos de granito ou tubos de concreto, para amortecer o impacto das ondas, que a cada
ressaca parece que se tornam mais e mais poderosas. Desta titânica luta novas destruições e acumulo de entulho que resultou no bloqueio
do caminho a beira mar. Raras são as ocasiões, sob condições de maré baixa e
mar muito calmo, que se poderá caminhar até a ponta sul pela orla. Em última instância,
estou praticamente privado, assim como muitos outros, do meu direito de ir e
vir, pois houve um bloqueio não natural do caminho. Nenhuma autoridade competente
chama para si a responsabilidade do fato. Ninguém se interessa! Não faz muito tempo assisti uma cena
de guerra! O local onde moro, lindeiro à vila do Siri, onde existe uma área de
preservação de dunas, foi invadido por várias construções irregulares. Gente de
extrema pobreza, pessoas que não encontram condições adequadas de moradia, devido à especulação imobiliária, construíram barracos até em cima de dunas. Concordo que tais construções agrediram severamente um local preservado e num belo dia foi montado um aparato gigantesco para o
desmanche daqueles mal construídos barracos e casas simples dos desafortunados. Retro escavadeiras, caminhões, viaturas da
PM e da polícia civil, FATMA e até a cavalaria da PM. Sem dó nem piedade
colocaram os barracos no chão e removeram a sujeira dos destroços. E não estou
aqui justificando o direito daquelas pessoas construírem em locais proibidos.
Gostaria de ter apenas uma razoável explicação da razão pela qual estas pessoas
(e eram muitas) foram tão violentamente removidas em detrimento de seus erros, enquanto
essas poucas que causaram a interrupção dos caminhos na praia (meia dúzia de privilegiados), continuam expandindo seus redutos alheios a tudo.
Florianópolis
é uma cidade que tem como principal atividade econômica o turismo. As belezas
incontestáveis da ilha de Santa Catarina são um atrativo irresistível para os
amantes da natureza. Qual a razão para permitir esta monstruosidade contra o
meio ambiente? Será tão difícil imaginar que quanto maior o estrago menor será
o fluxo de turistas? Para aqueles que tão alto preço dão aos bens materiais será
que não conseguem visualizar um futuro colapso econômico? Infelizmente acho que
não! Aqui na ilha, tenho me dedicado as atividades de aventura,
exercendo a função de guia de trilhas, instrutor de rapel e escalada. Não tenho
com isso pretensões financeiras. Quero apenas divulgar as belezas e curti-las,
junto com outras pessoas, que compartilham os mesmos gostos. Neste período tenho
divulgado através da fotografia e das redes sociais essas maravilhas. Embora minha
rede social seja modesta, mantenho contato com pessoas de todas as regiões do
Brasil e até de outros países. Muitos me fazem consultas, pedem informações
diversas, gentilmente os convido para virem conhecer nossas belezas. Confesso
que tenho medo que estas pessoas ao chegarem aqui, fiquem chocadas. Não só pelo
desrespeito das construções irregulares, mas também pela negligência da
população local e até mesmo de turistas. Não existe um local, por mais remoto
que seja, que não esteja poluído pela nossa falta de cuidado. Encontra-se de
tudo nas mais difíceis e menos frequentadas trilhas. De garrafas PET a eletrodomésticos,
vestuário, calçados, embalagens de todos os tipos, tocos de cigarro, embalagens
de repelente de insetos, resíduos de fogos de artifício e sinalizadores, sem
contar da falta de critérios de higiene na hora das necessidades fisiológicas. Ora, Ingleses é talvez o bairro melhor estruturado de toda a cidade. Muitas pousadas, hotéis, bancos, restaurantes e uma razoável população, não é difícil imaginar que tudo isso seja fator de multiplicação do problemas. Enfim, o meio ambiente não consegue se recompor e a reação a tudo isso se dará de
formas catastróficas. Até quando ficaremos impassíveis a estes alertas de nossa
mãe natureza? Até quando prevalecerá o poder do dinheiro e da ignorância? Já
estamos bem crescidos para compreender que este planeta é nossa casa.
Precisamos cuidar bem dela sob pena de ficarmos ao desabrigo a mercê das catástrofes
naturais.
É hora de
pensarmos e agirmos juntos em defesa do planeta. Que cada um faça a sua parte.
Assuma sua parcela de responsabilidade. População e autoridades. Só assim podemos vencer esta luta.
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