Racismo ou fundamentalismo midiático?

Digo de sã consciência e alma escancarada, nunca fui racista. Também me considero um pacifista. Sou intolerante a qualquer ato de violência, seja ela física, verbal, cultural ou psicológica. Tenho minhas convicções religiosas e embora eu não confesse minha fé em nenhuma religião, me considero cristão. Nascemos imperfeitos e nesta vida vamos fazendo escola. Conviver com as diferenças é um aprendizado duro, difícil de ser concretizado, pois o orgulho e a vaidade inerente ao ser humano dificulta demais a convivência. As ânsias da mocidade e a efervescência de ideias há muito me abandonaram. Muitos erros cometi ao longo de minha dourada juventude. Fui, em incontáveis oportunidades, pejorativamente apelidado e sempre em retribuição, inúmeras vezes apelidei outros. Aliás o apelido “Kako” que hoje sustento nas redes sociais e compartilho com amigos, originou-se de “macaco”. Embora no início de tudo o termo estivesse no diminutivo, posso garantir que o apelido não foi colocado pela habilidade ou pelo comportamento e sim por alguma semelhança, que na época dos cabelos imensos, minha figura lembrava um sagui com faces pequenas demais para ao volume da melena. Também já tive a oportunidade de experimentar outros animalescos apelidos em distintas ocasiões, mas nunca me preocupei muito com isto. Porque então esta súbita e constante atenção esta questão, que julgo ser tão antiga quanto a humanidade? Penso e repenso e chego a uma única conclusão: A sociedade humana está dividida em castas e assumindo posições fundamentalistas. É inegável este fato na política, religião, futebol e tantos outros. É certo que a questão racial não ficaria fora, como objeto desse fundamentalismo.
Entretanto, na medida que evoluímos material e culturalmente, o tal orgulho vai dominando o caráter humano, desviando este ser em aprendizado, para os caminhos obscuros da intolerância. E pior, conduzido por outros que despertam as minorias para a fúria do preconceito. Então as eminências pardas da política e da mídia, os maus religiosos e falsos moralistas de plantão se aproveitam de tais oportunidades para brilhar, ainda que temporariamente, sob os holofotes dos meios de comunicação, mais interessados em faturar alguns níqueis a mais com as desgraças humanas. Criam-se leis, lincham-se cidadãos, crucificam-se associações para dar o mais alto exemplo de moralidade e cidadania. Digo isto com certa revolta, pela proximidade das coisas que antes não me pareciam tão graves. O caso recente de retirar o tricolor gaúcho de uma competição nacional, por causa de racismo da torcida, convenhamos, é no mínimo uma palhaçada. Quantos torcedores estavam presente naquele estádio? Trinta mil? Filmaram uma menina e meia dúzia de incoerentes gritando “macaco, macaco”. O que isto representa? Menos do que 0,1 % dos que estavam presentes. Mas não faltou manchete chamando a torcida gremista de: “A mais racista do Brasil”. Pior ainda a atitude dos juízes do TJD expulsando um clube que luta e trabalha duramente para que estas coisas não aconteçam, basta ver o posicionamento do Grêmio com relação à torcidas organizadas. Também me colocaram o rótulo de racista, afinal sou um torcedor. A quem interessa este tipo de violência? A guria que foi exemplarmente punida e crucificada, perdeu seu emprego e servindo de exemplo mundial, por acaso teve pelo menos uma chance de se explicar ou mesmo de se retratar? Apenas foi condenada sumariamente, sem direito a defesa. Ora, isto mais parece um linchamento do que justiça. E não se trata aqui de concordar com o que fez esta jovem, mas convenhamos, quem não erra alguma vez na vida? Existe certeza absoluta que no pensamento desta moça ela estivesse dirigindo suas palavras por preconceito racial? Sinceramente acho que a mídia e a justiça desportiva estão dando um tiro no pé. Mesmo porque se existe realmente racismo no coração desta jovem, e em outros tantos corações, não será por estes meios polêmicos que vamos eliminar o esta purulenta ferida. Se conseguirá, no máximo, oculta-lo, pois continuará existindo e se multiplicando, já que racismo e outros tipos de discriminação tem sido flamados mas não esterilizados. Não se higienizam as mentes com o fogo da intolerância, muito menos com leis que despertem ódios adormecidos ou que favoreçam alguns em detrimento da liberdade de outros.
Não existem raças humanas, existe apenas humanidade! Se não aprendermos a nos colocar dentro desta única e aceitável verdade nada poderá ser feito para corrigir o rumo da nau que nos conduz. Precisamos aprender as lições sutis da paz e do amor, da tolerância e da justiça verdadeira. O fundamentalismo midiático pode apresentar bons e notórios efeitos, mas é uma bomba prestes a explodir e quando isto acontecer, de nada adiantará chorar ou procurar consolo.

Pensem nisto também!

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