Mudar ou evoluir?

Mudar não significa necessariamente evoluir. Ao contrario, pode significar uma regressão. É exatamente esta degradação que percebo no sistema educacional brasileiro e na sociedade como um todo.
                Começando pela escola, mudou muito desde os meus tempos de aluno. Os recursos hoje disponíveis não podiam sequer ser imaginados na minha época. TV a cabo, sistemas informatizados, recursos gráficos, copiadoras, impressoras, recursos áudio visuais enfim, um sem número de benefícios que nunca poderíamos imaginar quarenta ou cinquenta anos antes. Entretanto, apesar de toda esta mudança, não vejo as pessoas melhores informadas ou mais cultas que naquela época. Parece até que o nível cultural diminuiu! Se não acreditam no que eu digo eu faço uma comparação, muito fácil de ser constatada. Naquela época quem possuísse um QI 180 era considerado um gênio, hoje se fizermos uma pesquisa com meninos de rua, destes que andam cheirando cola pelas esquinas das grandes cidades, e medirmos sua capacidade intelectual, facilmente chegamos a 200 ou mais. Existem estudos que comprovam o fato. Com adolescentes que frequentam a escola, mesmo as de condições mais precárias, esta é a mesma realidade. Entretanto mesmo com a enorme elevação de inteligência a maioria de nossos jovens não consegue escrever corretamente ou pior, não conseguem entender o que leem.  E esta comparação não precisa necessariamente fixar-se no idioma pátrio. A matemática, a física e a química são enormes vilões que colaboram intensamente com os índices de reprovação. Se olharmos bem detalhadamente veremos que história, geografia também são muito rejeitados por alunos. Estamos diante de um incrível paradoxo: pessoas mais inteligentes, mais recursos pedagógicos e uma pior qualidade de ensino. O que está acontecendo então?
Para responder esta pergunta é preciso entrar no campo social. Mais precisamente no comportamento das pessoas frente a uma sociedade de oportunidades desiguais. É certo que o sistema capitalista, com todo o seu discurso sobre democracia e liberdade promulga que todos são capazes de vencer através de suas lutas, da persistência, da coragem, honestidade, patriotismo, cidadania, enfim valores muito divulgados e necessários ao progresso de um povo. Mas como estão sendo ensinados, ou repassados estes valores aos nossos jovens? Onde esta a igualdade de oportunidades dos menos favorecidos economicamente? Onde está o respeito pela individualidade? Não podemos aceitar que através de métodos demagógicos tais como, cotas raciais, programas educacionais alheios à realidade brasileira ou mesmo a criação de vagas e a garantia de que todos poderão frequentar a escola do ensino fundamental à universidade, solucionará o problema da desigualdade de oportunidades ou melhorará a qualidade do ensino público. Se negros, índios, pardos, ou seja qual for a classificação dada, não chegam até a universidade, não é por terem a pele escura ou pertencerem a esta ou aquela tribo. Eles não chegam lá porque não conseguem competir em igualdade de condições com alguns poucos privilegiados. Além disto, separar a humanidade em raças é o verdadeiro e perfeito racismo. Afinal de contas todos deveriam ser considerados humanos! Não é a cor, o credo ou a origem social que nos diferencia. Porque então tentar priorizar determinados grupos humanos? Não seria isto uma discriminação? Acredito que exista aí um grave erro de conceituação, até mesmo porque, se formos efetuar um teste de QI com estas populações consideradas diferenciadas, ele estará nos níveis já citados anteriormente. O que está faltando, portanto, é uma melhor distribuição das riquezas, uma melhor definição sobre os direitos das minorias e, sobretudo, uma nova consciência politico administrativa. Não podemos mais admitir as diferenças tão grandes que existem entre o rico e o pobre. Enquanto houver este abismo os menos favorecidos farão de tudo para poderem progredir, e quando falo “tudo” me refiro ao amplo e complexo significado da palavra. Inclusive o roubo, a extorsão, o crime em toda a sua amplitude. Como agravante temos ainda o comportamento das classes políticas, com toda a insensatez de seus atos e o poder para mantê-los. O privilégio de um político é verdadeiramente a maior vergonha brasileira, mas o pior nisto é que ele serve de referência para aquilo que se considera progresso material. Um simples vereador, sem concurso público, ou mesmo uma carga horária definida, pode ganhar facilmente quinze ou vinte vezes mais do que um trabalhador assalariado. Desnecessário falar dos escalões mais altos da política. Não parece este fato, por si só, um desperdício imenso de recursos e causador de uma batalha tremenda na busca pela igualdade? Pois nós brasileiros há muito travamos esta batalha e a maior parcela da sociedade está perdendo com isto. Já não importam os meios, para conseguir galgar qualquer posição qualquer coisa está sendo válida. Os fins estão justificando os meios! Parece que o príncipe Maquiavel estava correto...
                No meio a este caos está a questão da educação, ou quem sabe, da oportunidade de evolução através da educação. Grande parte das pessoas diretamente envolvidas com as questões educacionais também está excessivamente envolvida com o progresso material. A consequência disto é a perda significativa, se não total, dos valores éticos e morais que acabam em prejuízo da cidadania. Não queremos mais reconhecer limites, não importa se tenhamos que passar por cima de nosso vizinho, amigo, idoso, ou deficiente. O importante é que se chegue na frente. E aqui eu observo que grande parte das lutas daqueles que estão envolvidos na educação não é em prol desta e sim a favor de si mesmo. Assim como na política, vemos pessoas lutando por melhores salários, efetuando greves, agitando bandeiras em meio a protestos, mas que não são capazes de questionar a própria consciência ou intelecto, para avaliar sua posição social e a importância que poderiam ter para modificar os rumos desta mesma sociedade. Muitos destes profissionais travam lutas que não vão além da esfera pessoal. E esta atitude é muita mais ampla, vai além dos limites da educação e começa a ser influenciada muito cedo. Um jovem que vai para a universidade, na grande maioria das vezes, escolhe um curso que lhe permitirá um bom rendimento e talvez um status diferenciado. Poucos se preocupam com o retorno social que suas profissões poderiam e deveriam dar, a fim de contribuir para o progresso do país. O importante é ganhar bem. Daí formação de profissionais medíocres nas mais diversas áreas, que dificilmente contribuirão para o progresso da sociedade como um todo. Desnecessário dizer que não são todos que agem assim, que me perdoem o comentário aqueles de elevado senso e conduta social, mas estes, infelizmente estão em minoria neste momento.

                Face ao exposto podemos concluir que a educação terá um caminho muito árduo pela frente. Dependerá muito de ações isoladas, daquelas pessoas bem intencionadas e com senso coletivo muito bem desenvolvido. Para podermos ter alguma esperança em grandes mudanças precisamos corrigir urgentemente as injustiças sociais. Este fato passa predominantemente pela política, justamente o setor de maior descrença e desvirtuamentos do povo brasileiro. Modificar o sistema político, torna-lo mais equilibrado e participativo, é um trabalho hercúleo. Justamente porque é exatamente neste setor que se fazem valer, de forma mais acentuada, as vantagens e privilégios. Estamos em uma luta de anões contra gigantes. Cada um de nós tem que ser um pouco mais destemido para enfrentar esta luta, nos limites da paz, da solidadriedade e da igualdade. Precisamos nos depurar, nos transformamos como seres humanos, não apenas mudando, mas “evoluindo”. Se alguém, no fundo de seu coração deseja uma sociedade melhor, penetre fundo em sua consciência e veja o que está sendo feito para modificar o cenário que se apresenta no momento. A partir desta consciência é que começarão aparecer os resultados, inclusive na educação. Quanto tempo levará eu não sei, mas que se tenha em mente: Não é um processo rápido e o tempo que foi perdido muito longo.

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